quarta-feira, 13 de julho de 2011

Aquela Copa de 2006...

Alto verão europeu, julho de 2006. No Brasil, férias escolares e um frio de matar. Na Alemanha, a Copa já estava quase completando um mês. E a nossa seleção, que vinha empolgada do pentacampeonato na Coréia e no Japão, em 2002, já havia atropelado Croácia, Austrália, Japão e Gana. Aquele time dava vestígios de que era realmente fantástico. O famoso “quadrado mágico”, formado por Kaká, Ronaldinho Gaúcho, Adriano e Ronaldo – que naquele momento já havia se tornado o maior artilheiro da história das Copas – vinha encantando a todos e a todas.

Era um sábado lindo, de céu azul e poucas nuvens, tínhamos a França de Zidane pela frente. É, aquele mesmo que, oito anos antes diante de sua torcida, em pleno Stade de France – quando Ronaldo teve sua famosa “convulsão”, que mais tarde ficara conhecida como “síndrome do Bial” –, acabou com o sonho canarinho do penta. A revanche era esperada, o cenário era perfeito. E eu lá, empolgado na beira do rio com os amigos, os intrusos e a família. A festa pronta, as velhas TVs espalhadas pela casa e a faixa pendurada na entrada anunciavam: iria ser um grande dia. Todos bebiam, interagiam e se divertiam.

Quando o jogo começou, olhares atentos, pupilas dilatadas, manias observadas. Um ficava de costas, o outro vestia a camisa do tri, um terceiro a do tetra e a moça, que se revelava ansiosa, uma bandana na cabeça. Um primeiro tempo muito acirrado e disputado. Algumas canetas de Kaká, umas derrapadas de Ronaldo (que na época já estava gordinho, imaginem...), vários chapéus de Zidane. É, um 0x0 angustiante. Início do segundo tempo, o Brasil volta com a mesma formação, alguma coisa estranha acontecia. O Cafu furou umas duas, o Lúcio deixou passar algumas, o time todo voltou apagado. Menos ele: Zinedine Zidane, o Zizou. Aos 12 minutos, numa bola certamente despretensiosa, viria o lance decisivo. Bateu uma falta na meia-esquerda e pegou Thierry Henry – que esteve apagado em todo o primeiro tempo – livre na segunda trave: gol da França. E o Roberto Carlos, coitado, nem viu o gol. Estava ajeitando a meia...



E foi assim até o final do jogo, um sofrimento só. O segundo tempo acabou, o jogo acabou, a Copa acabou. E eu chorava, chorava e chorava. Inconsolável. Afinal, “a pátria estava nas pontas das chuteiras”, seriam quatro longos (e infelizes) anos pela frente. Quanta angústia em ter que esperar essa trupe novamente. Ficaria um vazio, era mesmo o fim do mundo. Foi quando, de longe, escutei algo semelhante a “não ligue, isso é só futebol. É apenas um jogo, a vida continua”. Putz, como assim alguém vem me falar isso nessa altura do campeonato? “Alôôu, alôôu, o Brasil acabou de perder a Copa. Vou suicidar, quero morrer. Você é o demônio, sai daqui!”. E eu é que saí, me isolei por alguns instantes. Mas (pausa para pensar), subitamente me veio aquela sensação do tipo: “e daí, é realmente só futebol”. Os passarinhos continuavam a cantar, o céu ainda estava azul e todo mundo ainda estava bebendo e cantando. E feliz, claro. Então, pensei comigo mesmo se não deveria ser mais eu, cuidar das minhas coisas e dos meus círculos. Passei a cogitar severamente que o futebol seria, de fato, fútil diante das reais importâncias do mundo. Relutei por mais alguns minutos, mas concordei. Me desliguei.

Tempos depois, o Roberto Carlos ainda seria taxado de carrasco por aquela perda. Logo ele, que também havia sido penta em 2002 e, anos antes, conseguira a proeza de ser eleito o segundo melhor jogador do mundo como lateral esquerdo. Também né, foi comprar uma meia frouxa logo para a Copa, já viu. Naquela mesma Copa, Zizou ainda nos proporcionaria um dos lances mais inusitados de todos os tempos. Em plena final, contra a Itália, ouviu sua irmã ser chamada de puta e não pensou duas vezes antes de dar uma bela duma cabeçada no Materazzi. Coitado do Materazzi. Ganhou a Copa, mas ganhou também um roxo na barriga, perdeu a piada, a razão e ainda viu a legião de fãs de Zidane só aumentar...

E o Henry? É, o Henry. Mal sabia ele que, ali, sacramentava o meu total desencantamento com a bola e começara outra (e nova) vida. Desarmado, despreparado, entusiasmado e com o futebol de lado.

Hoje, é claro, ainda gosto muito. Vou para o buteco, assino campeonatos, me enlouqueço com o Cruzeiro e acho fantástica a paixão atleticana. Conheço os times, os treinadores, os jogadores, os reservas e até os comentaristas. Me diverti vendo o Santos de Neymar ganhar a Libertadores e parei para ver o Fla-Flu em pleno carnaval. Mas Henry, de fato, me arrancou esse cordão umbilical.


Nenhum comentário:

Postar um comentário