domingo, 24 de julho de 2011

Desapego

Meio-dia. Eu queria estar na Bahia, na Cracóvia ou em qualquer sala vazia. Mas, vim parar na terapia. Sem desespero, sem agonia. Afinal, tenho uma tarefa que não é nada fácil, tampouco impossível. Dois meses lá se vão, quase quinhentos visitantes no blog e muitas dúvidas ainda me assombram. Sessenta dias de pura nostalgia e rebeldia. Uma quase esquizofrenia. Que doeria, eu já sabia. Mas que aqui não caberia, covardia.

Já falei de tentar, superar, esperar, viver, reviver, renascer. Ser. Já falei das minhas angústias, das minhas inseguranças e de quase todas as minhas andanças e lembranças. Sou praticamente um livro aberto, um vômito constante de todos os meus sentimentos. É hora de fechar. Mas, mesmo tentando por tantas vezes falar de alegria, sempre me vence a melancolia. E assim, repetidamente, vou seguindo dia após dia.

Minhas sensações têm se revezado entre energia, sofrimento, excitação e ansiedade. Estou cansado dessa intensidade. Queria ser mais leve, alienado, leviano, talvez assim fosse mais soberano. Estou exausto de ser só tédio, chego a querer jogar tudo no brejo. Enquanto todo mundo espera alguma coisa de um sábado à noite, eu continuo não esperando nada. Tem gente morrendo, gente matando, gente roubando, gente amando e gente vivendo. Mas eu, apenas escrevendo. Tenho me alternado entre posts rápidos de poeminhas bobos e textos densos de sentimentos tolos. Acendo os refletores, eu mesmo alugo os meus próprios leitores. Saio à noite, procuro nos estranhos uma afetividade que me mova. Mas, logo eu mesmo me estranho e saio correndo à francesa antes que qualquer um me veja. E isto tem se repetido com tanta constância, que chega a me dar até ânsia.

Alguns pensam que os meus chapéus são para esconder a calvice. Mas não, são para me transfigurar, modificar, tentar essa mente realçar. Alguns pensam que os meus cabelos brancos estão vindo da ansiedade. Mas não, esses sim é que vêm da velhice. Alguns pensam que eu deva voltar a cozinhar, a degustar. Mas não, não tenho saliva e nem paladar. Alguns pensam que escrever só me fará sofrer. Mas não, tem me ajudado a ser. Alguns pensam que é fácil lidar. Mas não, é uma matéria delicada até de se pensar. Alguns pensam que estou cavando a minha própria cova. A estes, eu digo: uma ova!

Alguns amigos dizem que o que eu preciso mesmo é viajar, outros dizem que o que eu preciso é me acalmar, deixar estar. Mas, talvez, o que eu precise mesmo é de uma boa dose de desapego. Para me libertar.

3 comentários:

  1. Não vai pra Cracóvia não que lá é frio e até um pouco sombrio, vai pra Bahia, pra Cancum... Mas pode saber que só vai se achar dentro de você.

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  2. "Publicar um texto é um jeito educado de dizer: "Me empresta seu peito porque a dor não tá cabendo só no meu."

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  3. São Paulo está de portas abertas para você, meu caro! O dia que quiser distrair, está mais do que convidado.

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