sexta-feira, 8 de julho de 2011

Hoje

Hoje eu quero um reencontro.
As pupilas dilatadas, a ressaca.
A louca vontade de dirigir, os óculos escuros.
As buzinas incessantes.
A sensação de não dormir.

Hoje eu quero um reencontro com a luminosidade e a poesia.
A métrica carnal, minha tormenta, o meio-dia.
A blusa azul, o meu chapéu, a sala fria.
Um reencontro com a minha boemia.
Eu quero ver e quero crer.

Hoje eu quero um reencontro triunfante.
Gente gritando. Liberdade, ainda distante.
Eu quero um sol que brilhe e a chuva pra dançar.
Eu quero ver os sonhos. Vontade de vingar.
Mesmo ácido, pois bem, o tempo passa.
A redenção já vem.

Hoje eu quero um reencontro com a magia.
A rua está vazia e mesmo assim eu vou.
Não vou bater a porta.
Eu quero a madrugada, ver a noite enluarada.
Eu quero atenção. Mas bem, agora não.
Ainda vou buscar, um dia alcançar.
Não há mistério algum, só vou.

Hoje eu quero um reencontro com o passado.
Não sou mais tão jovem, sou o meio.
Nostalgia me permeia.
Não quero mais chorar, o leite derramar.
Alguns sintomas, os cabelos brancos e a careca prenunciam.
É velhice, o prelúdio dos tempos.
Aqui há paz tardia.

Hoje eu quero um reencontro com meu corpo.
Ele pede, mas já doem os joelhos. É tanto andar.
Os olhos lacrimejam de tanto olhar e, o umbigo, um tanto frio.
Os pés descalços só deslizam no vazio.

Hoje eu quero um reencontro só comigo.
Desfigurado e desconfigurado.
A minha cafonice confessa, ser paisagem é pesar.
Deixa estar.
Estou cuspido, escarrado. Mal criado.
Um réquiem de mim mesmo.
Refém.

Hoje eu quero um reencontro sem encontro.
Sem melancolia, sofrimento. Sem angústia.
Isto, claro, me frustra.
Mas não, não dá para voltar.
Vagar. Devagar. Reencontrar.
Sem parar.


Nenhum comentário:

Postar um comentário