terça-feira, 5 de julho de 2011

Paisagem

Tão perto, tão longe.


Na minha janela, só uma paisagem.
Uma árvore, um pintor e um vizinho.
A árvore é verde, o pintor ouve Raúl.
E o vizinho anda nu.

Minha parede é amarela e o pintor lá na janela.
O vizinho vê a mesa.
E a árvore é presa.

Tão perto, tão longe.
Sem angústias, sem pensar.
O que será se passa lá?

O pintor, horas ali. O vizinho, sempre ali.
A árvore não fala. E eu? Estou aqui.

Na janela do outro lado, um vazio e o céu.
As abelhas buscam mel, a moça vê seu véu e o tio olha pro céu.

Tão perto, tão longe.
Sem angústia, sem parar.
Tão longe, tão perto.
Incerto.

Na paisagem do meu quarto não tem Lô, não tem esquina.
Não tem mel e nem tem véu.
Só parede e escarcéu.
Tenho amigo que é réu. Tenho outros lá no céu.

O pintor e o vizinho são amigos. Não sabia.
A moça e o tio se namoram. Agonia.
As abelhas e a árvore trocam charmes noite e dia.
Meus amores, meus amigos, ironia.

Tão perto, tão longe.
Sem angústia, sem pensar.
Sem delongas, sem parar.
Tão longe, tão perto.
Incerto.

Todas as conexões estão ali.
E eu, estou aqui.
O mundo é imperfeito.

Tão perto, tão longe.
Apenas daqui.

A paisagem interage. 
O espectador, nem age.



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