terça-feira, 26 de julho de 2011

Um estranho no ninho

Era julho de noventa e cinco, um frio de matar naquela região remota do sul. Ele, que andava um pouco estranho com o mundo (e consigo mesmo) tinha saído com um amigo, que estava afim de um balacobaco. Decidiram então se embebedar, enlouquecer e madrugar. Ele estava tranquilo, despretensioso. Mas, o amigo, estava insano. Tinha que aturar. Altas horas da noite – que passou a ser tediosa -, conheceram uma sujeita e o amigo ficou o resto da noite a mascar, tentar, convencer. "Cara, que gata! Que boca, que papo, que linda!". "É...". A moça, nem tchum. Ele, sempre ficava mais de lado, na sua. Quase calado. Concordava com algumas coisas, com outras não. Ares de quem não queria novas amizades. Conversa vai, conversa vem, ela me solta um “você me acha bonita?”. “Em? Eu?”. “É, você. Me acha bonita?”. “Isso é pergunta que se faça?”. “Acha ou não acha?”. “Não, você é feinha...”. “Ahm???”. “Ué, só fui sincero. Quer dizer, você é linda e você, claro, sabe disso”. “Ah, agora você está falando isto só porque eu te pressionei”. Trocaram olhares estranhos, foram embora. Até hoje, ele continua se sentindo um estranho no ninho. Ela (provavelmente) também. E eles, juntos, nunca mais se estranharam.

Um comentário:

  1. De céu e rocha, o vale da lua vale, a água da serra lava, a leva do vinho chapa, da leve brisa e plana, alto de outros ares e encontros.

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