sexta-feira, 19 de agosto de 2011

Até o fio da navalha


E nessa de tentar me convencer de que o mundo é grande, de que as coisas materiais são passageiras, de que os Homens irão se respeitar, de que a liberdade plena há de vir, de que arte e cotidiano tem o direito de se confundirem e, eu, de me iludir, vem essa realidade nua, crua, cuspira e escarrada, me choca com um toque de recolher abrupto, coloca minha bandeira a meio-pau e me dilacera com um desejo supremo de explodir. Será que nada vai mudar?

Eu, que fui lá bem perto do fundo do poço, questionei-me nos atos, busquei-me no vácuo e montei-me inócuo, garanto: por mais que ainda não tenha chegado a hora de querer fugir ou de pensar em partir, a leveza desse ser ainda está longe de vir. Ingênuo que só eu, chego a cogitar o novo, renovar o bojo, encher de lápis coloridos aquele velho estojo. O mundo é menor do que eu queria, é fato que preciso dar um tempo ao tempo, sinto que a minha arte não é bela, mas sincera, me reconstruo em forma de aquarela.

Devo seguir aquela estrada amarela, tão singela que só ela. Nessa jornada, deveras longa, ei de descobrir os desejos distantes, por demais impactantes, me desprover de todos os antigos sonhos e das faltas certezas. Se essa overdose de presente não me enganar, eu me prezo e não vou me entregar. E se o acaso escancarar-me que um dia vou morrer, eu desvio e lhes digo: nem antes, nem outrora, a minha hora é agora.

Se a morte é iminente, viverei com tanta intensidade para fazer valer a pena esse intervalo sem fim. E se as únicas opções que me derem forem a direita ou a esquerda, vou escolher sempre ir pelo meio, incerto, buscando um sol que brilhe para mim, até que um dia, enfim, o sino bata e avise: meu amigo, chegou a sua vez.

Enquanto esse dia não vem, prometo aceitar esse meu sangue interiorano, o meu veneno taurino e o meu jeito latino, lançar-me na vida com tanta atrocidade que nem dará tempo de pensar em voltar. Prometo jogar-me na velocidade terrível da queda, fazer de todas as manhãs sãs, de todos os dias vívidos e de todas as noites minhas. Prometo enlouquecer-me na minha sanidade, encher todos os meus copos de presente, embebedar-me do momento, enxugar-me dos meus prantos e descavar-me desses antros. Eu prometo colocar o meu bloco inteirinho na rua.

Prometo lutar insistentemente pelas minhas convicções e pelos meus desejos. Prometo levantar da cama e ficar de pé, prometo ir para a rua quando a lua me chamar e prometo também não sair só. Mas que, se um dia o tiver que fazer, irei sem dó. Prometo não tentar carregar mais do que eu possa aguentar, dançar na chuva quando ela vier e tragar aquele cigarro lentamente, como se fosse o último. Prometo chorar, sorrir e espernear nos momentos de alegria, mas também prometo me recolher naqueles de melancolia. Eu prometo ser poeta, profeta e ter uma triunfal imaginação, ser daqueles que sobe em cima da mesa e pede uma, e pede dez, e pede mil!

Prometo me mostrar a vida e nunca mais a mim dizer que é despedida. Não vou dar bobeira, não vou sentir culpa, eu vou jogar fora tudo aquilo que não cabe em mim e me encontrar nas profundezas do meu próprio mar sem fim. Pois, se a gente é mesmo feito para acabar, eu prometo viver até que a última gota de suor caia, até que o último suspiro valha, até o fio da navalha.

2 comentários:

  1. a hora que descobrir teu verdadeiro potencial...tua beleza...e o quanto é importante prá muita gente...e o quanto pode ser mais do que útil na sabedoria...e poder escrever momentos sublimes...verás que a vida é isto mesmo...um dia após o outro...e esqueça aquelas pessoas na sala de jantar!!! "que vieram p nascer e morrer"...escute o trem de ferro alegre a cantarrrrrrr!!!!!!!viva sempre

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