sexta-feira, 26 de agosto de 2011

Cansaço


Estou cansado. Cansado de tentar jogar pedras para o alto, de levar flechadas do estranho, cansado de mim e de relutar em aceitar que a minha vida, hoje, é diferente daquilo que eu esperava. Cansado dessa inquietude, dessa pseudo-plenitude, indo rumo ao completo desconhecido.

Há alguns minutos, estava eu ali na esquina de um lugar qualquer, vendo o ir e vir de cidadãos enlouquecidos, o trânsito alucinante, o bêbado na vala e o céu, agora azul, bem diferente dos cinzentos de outrora. O tempo não para e nenhum sentimento, novo ou velho, cala. Hoje não há o que se concluir, não quero pensar em partir, fechar com rimas ou muito menos desistir de mim. Hoje não, estou esgotado. E nessa esgotabilidade sem fim, andei pensando até em ir à Índia e virar hippie, imaginei-me em Londres como um yuppie, talvez voltando à Nova York, porque a vida é bonita e dá voltas, ou até partindo para o inusitado, sei lá, talvez em Marrakesh, em Bangkok, no Ceará ou algo mais próximo de cá, aqui, acolá.

Estou cansado de tentar tentar, cansado de insistir e não me alcançar, cansado de ficar à deriva e levar uma vida, assim, a deus dará. Tento dirigir, ir de táxi, de calhambeque bibi, de veraneio vascaína, de trem das sete, das onze ou até de expresso da meia-noite, se preciso. Mas, não tenho nem ideia de onde isso tudo vai dar ou aonde quero chegar, e simplesmente volto à esquina. Aquela mesma esquina, de um lugar qualquer. Agora, a moça bonita de rosa passa, o caminhão da padaria para, percebo que a minha roupa está um pouco mais larga do que antes, a barriga diminuiu um pouco e essa mente, incessante, não dorme e não para. Observa, analisa, respira, inspira e transpira.

Estou cansando de me viver e tentar livrar-me do meu ego. De tanto esgotado, eu ainda que me entrego. Inevitável erupção. Interrupção infalível. O trabalho chama, os amigos clamam, o novo grita, o desejo explode e eu, bom, eu me encolho e me recuo. Talvez apenas aquele fio de água gelada do chuveiro ou o quadro branco que insiste em me encarar diariamente no escritório entendam que o que eu preciso mesmo é de choques ininterruptos, de uma desautomatização ainda distante e de um universo sem fronteiras, pois tudo aquilo que está ao meu redor eu já sei de cor.

Estou cansado de me aguentar e, confesso, aquela mesma esquina de um lugar qualquer até teria poderes para me levar às profundezas do meu universo ou até ao fio da navalha. Mas, mundo meu, convença-me que valha! Estou cansado, bem cansado e ponto final. Estou cansado de ficar cansado. Insônia, a rainha do meu lar, hora é fonte de inspiração, hora um deserto da melancolia. Ainda me deserdo, seu lerdo. Por que logo aquele peso, que era tão distante, agora é um presente constante?

Estou cansado e, valham-me os deuses, não canso de me tentar. Estou cansado e, valham-me os Homens, me velo e me seqüelo. Eu canso, canso, canso. Hoje não sou, sei lá se fui um dia. Eu canso, canso, canso. Hoje amargura, desprovido de magia. Eu canso, canso, canso, e depois descanso. Mas, canso, canso, canso, e prefiro assim: devagar, leve e bem manso.

Um comentário:

  1. "Sofrer dói. Dói e não é pouco. Mas faz um bem danado depois que passa." (C.F.A.)

    ResponderExcluir