quarta-feira, 10 de agosto de 2011

A função da escrita

Porque escrever é arte, não se confundam.
Falo por mim, sugiro por todos nós.

Sobre mim, como antes anunciei, tenho me alternado entre “posts rápidos de poeminhas bobos e textos densos de sentimentos tolos”. Nunca estive tão mal quanto me revelo nos melancólicos, tampouco exclusivamente bem, inteiro e fortemente armado, como tento me apresentar nos demais. Estou exatamente no meio. Os sentimentos são apenas singelas inspirações, um empurrãozinho para o rascunhar, pois raramente são eles que escolho para postar.

Sobre todos nós, devo apenas sugerir. Nós, vãos escritores, vivemos basicamente de duas coisas: tentar e tentar. Hora, tentamos nos mover pela imaginação. Hora, aumentamos e inventamos para tentar convencer. Mas, repetidamente, tentamos surpreender pelo jeito inusitado, exclusivo ou descolado da escrita. Buscamos aquilo que não está nos gibis, nas revistas e nos best-sellers, aquilo que está oculto, no inconsciente ou no fundo da gaveta, aquilo que nenhum ser-da-escrita antes conseguira alcançar. Alguns apelam para as rimas, outros para citações musicais, contos ou poemas, uns tentam ser simples cópias de autores e desautores raramente lidos. A coincidência é que sempre escrevemos para vocês também, claro. Mas, não se iludam, são meros coadjuvantes e sempre o serão. A nossa busca é por tentar trazer à tona apenas aquilo que nós mesmos queremos, pois somos os nossos próprios leitores, somos a causa e também somos o efeito.

Várias vezes ao dia acessamos o blog para verificar novos comentários, o número de visitas, ou só para darmos uma espiadinha mesmo, daquelas bem escondidas até da nossa sombra. Somos tarados. Desesperamo-nos quando não há nada novo ou quando não vemos nenhum “curtiu” ou “sorriu”. Nesses momentos cruéis, julgamo-nos a farsa, a escória e temos a certeza absoluta de que os holofotes não funcionaram. Não conseguimos lhes enganar e, mesmo postando e insistindo por diversas vezes, não funcionou. Em outros, nos deparamos com despretensiosos comentários, sejam anônimos ou identificados, alguns “adorei” ou “chorei”. Leituras diversas e adversas daquilo que de fato esperávamos, a tentativa de traduzir em palavras aquilo que julgávamos impalpável. Nesses momentos, meus caros, geralmente sorrimos.

Devo confessar que estou nessa aventura há pouco, mas tenho me surpreendido dia após dia comigo mesmo e com as raras fontes de inspiração que porventura vêm sendo desvendadas. Hoje, por exemplo, me inspirei com ontem, com um azulejo do banheiro e até com o fio de água fria que saía do chuveiro. Nesses momentos – que antonimamente estamos sem os nossos mais fiéis, os rascunhos – saímos correndo, desesperados e desenfreados para psicografar. E não é raro também sentarmos em frente ao caderno e tudo ficar vazio, tudo novo (de novo) e voltarmos ao início. Mas, de forma mágica e poética, em outras vezes aquela palavra torna-se um texto, aquele momento torna-se um conto, aquela viagem torna-se um livro, aquele comentário nos abre um mundo. E a gente, ufa, respira fundo.

Vivemos numa cruel e insistente busca por mensagens insólitas, leituras dúbias, ditos subliminares. Tentamos escancarar aquilo que aparentemente não é e esconder aquilo que com certeza é. Fingimos explicitar as coincidências, jogamos falácias para omitir sentimentos e remetemo-nos a momentos nunca existentes. E nesse eterno jogo de palavras e ideias, sistematicamente temos que fechar com chave-de-ouro. E quando conseguimos encaixar, meus amigos, aí é uma explosão de gozos ininterruptos.

A escrita, na verdade, não tem uma função muito clara. Pelo menos não pra mim. Não é alcançável, não dá para pegar ou tocar, não consigo nomear. Não há conceito coletivo, a escolha é sua. No final das contas, a minha escolha é fazer dela uma ponte entre a realidade e a ficção, entre o sim e o não, entre a melancolia e a diversão. Fico apenas com me aliviar, me acalmar e me encantar. Escondo-me na tristeza, revelo-me na destreza. Porque se escrever é arte, a mim enganar também faz parte.


Já os meus pares, aqueles que chamei de “todos nós”, talvez eu consiga nomear. A esses seres melancólicos, românticos, incompletos, inspirados, desautores, falsos poetas ou pseudo-escritores que, assim como eu toparam se aventurar, dou o nome de loucos.

Um comentário:

  1. Ae, ô cachinha dificil de aparecer.
    Escrever é assim, é se libertar, vomitar o que tá te fazendo mal, expelir um corpo estranho.
    Escrever é tudo isso que você escreveu. "Resolvo tudo escrevendo, menos o que me faz escrever."

    ResponderExcluir