sexta-feira, 7 de outubro de 2011

Escrevo hoje

Hoje eu decidi que não vou escrever sobre nada. Eu vou escrever sobre tudo. Sobre tudo o que me aflige, me atormenta e me maltrata. Sobre tudo o que me move, me levanta e depois me mata. Hoje eu vou escrever sobre a dor, sobre o amor e sobre o calor dos verões de outrora. Eu vou escrever sobre o frio, sobre ser frio, sobre como acabei imergindo-me nessa onda de calafrios. Hoje eu vou escrever sobre tudo.

Sobre as encomendas, sobre as oferendas, eu vou escrever pra Oxalá. Hoje eu vou rascunhar. Hoje eu vou escrever sobre a alma, que falha, hoje eu vou escrever sobre as memórias da infância, eu vou escrever sobre a moça mais bonita da cidade. Hoje eu vou escrever sobre os meus dias, eu vou escrever sobre as noites vazias, hoje eu vou escrever uma poesia. Hoje eu vou escrever minha calma. Hoje eu vou escrever sobre a felicidade, sobre a tristeza e sobre a leveza que reluto em alcançar. Hoje eu vou escrever sobre os fracos, os frascos, eu vou escrever uma canção. Hoje eu vou escrever sobre o ódio, o ópio, a insegurança de ser um só no mundo. Hoje eu vou escrever sozinho. Solo. Hoje eu vou escrever sobre as drogas, sobre as fraldas do vizinho, hoje eu vou escrever sobre o choro da criança, sobre o porre que eu tomei no bar da esquina e sobre como ser um estranho no ninho. Hoje eu vou escrever sobre tudo isso.

Hoje eu vou escrever sobre a magia e sobre a minha inspiração, mesmo que tardia. Hoje eu vou escrever para a clarice, para o caio, vou dizer como consegui me entupir de salgadinhos na noite passada, assistindo ao filme do Woody Allen. Hoje eu vou escrever sobre o carnaval, sobre a Lapa, eu vou escrever sobre o meu inferno astral e até sobre o meu ancestral. Hoje eu vou escrever sobre o tal. Hoje eu vou escrever pra você, hoje eu vou escrever e depois renascer. Hoje eu vou escrever sobre o mundo, sobre o fundo do buraco negro à minha volta. Hoje eu vou escrever sobre o livro que eu li no mês passado, sobre o livro que eu leio agora e sobre o livro que você vai ler depois, o que estou também escrevendo agora. Hoje eu vou escrever sobre tudo e mais um pouco.

Hoje eu vou escrever sobre as flores, hoje eu vou escrever sobre arte, hoje eu vou escrever, por que escrever também faz parte. Hoje eu vou escrever sobre o cego, hoje eu vou escrever sobre o jazz. Hoje eu vou escrever minhas cartas, hoje eu vou escrever pros estranhos. Hoje eu vou escrever sobre os tristes, sobre os rifles, sobre as noites cansadas, sobre a enfermaria dessa madrugada. Hoje eu vou até o meu limite. Hoje eu vou escrever sobre tudo. E amanhã, bom, amanhã eu te conto.

3 comentários:

  1. Escreva sobre qualquer coisa. Adoro de qualquer jeito. Algumas vezes mais. Outras, um pouco menos. O importante é lê-lo. risos... Beijos, Léleo! Quase com um carinho de vó! rs...

    ResponderExcluir
  2. juro que você, mesmo sem querer, quase me fez chorar agora. a minha vovó, tão querida e tão distante, só me chama de leléo. :)

    ResponderExcluir
  3. :)

    (qualquer coisa dito além disso, estraga)

    ResponderExcluir