sexta-feira, 28 de outubro de 2011

Meio intelectual, meio de esquerda

Na semana passada, eu comecei a ler “Meio intelectual, meio de esquerda”, do Antônio Prata, estou gostando bastante. Estou adorando, na verdade. Recomendo. Textos leves, curtos, tenho lido uns três ou quatro por noite. Às vezes, até de dia eu faço uma pausinha e corro para ler. Um dos textos, do qual veio o título do livro e do post, lembrou-me alguns amigos meus, meio intelectuais, meio de esquerda, lembrou-me o micro-universo meio intelectual, meio de esquerda do qual faço parte, no qual convivo diariamente, ao qual insisto em defender e, assim, meio intelectualmente, meio de esquerda, ofereço este texto, copiado e colado do livro, com a licença de Antônio Prata, ou sem licença alguma, aos meus amigos meio intelectuais, meio de esquerda, Frederico Diniz, Diego Rezende, Pedro Moreira, Geraldo Alicrim, André Mitre, Daniel Quintela, Mateus Perilo, Nilo Teixeira, Sérgio Mitre e Rafael Guimarães e alguns outros que agora eu posso ter esquecido, mas que, assim como eu, são meio intelectuais, meio de esquerda, adoram o Brasil 41, o Bar do Orlando, o Bordello e o lado B da Lapa e de Santa Tereza, pois lá é que é massa! A nós, que tanto adoramos descobrir novos lugares meio intelectuais, meio de esquerda antes de outros meio intelectuais, meio de esquerda, aqueles falsos ordinários. No meu livro, que ainda sairá um dia, quem sabe, estou preparando uma resposta para Antônio. Mas, por enquanto, ficamos aqui, a gente, se entendendo, se identificando e se divertindo, sempre, meio intelectuais, meio de esquerda.

Bar ruim é lindo, bicho

Eu sou meio intelectual, meio de esquerda, por isso frequento bares meio ruins. Não sei se você sabe, mas nós, meio intelectuais, meio de esquerda, nos julgamos a vanguarda do proletariado, há mais de 150 anos (deve ter alguma coisa errada com uma vanguarda de mais de 150 anos, mas tudo bem).

No bar ruim que ando frequentando ultimamente o proletariado atende por Betão – é o garçom, que cumprimento com um tapinha nas costas, acreditando resolver aí quinhentos anos de história.

Nós, meio intelectuais, meio de esquerda, adoramos ficar “amigos” do garçom, com quem falamos sobre futebol enquanto nossos amigos não chegam para falarmos de literatura. “Ô Betão, traz mais uma pra gente”, eu digo, com os cotovelos apoiados na mesa bamba de lata, e me sinto parte dessa coisa linda que é o Brasil.

Nós, meio intelectuais, meio de esquerda, adoramos fazer parte dessa coisa linda que é o Brasil, por isso vamos a bares ruins, que têm mais a cara do Brasil que os bares bons, onde se serve petit gateau e não tem frango à passarinho ou cande de sol com macaxeira, que são os pratos tradicionais da nossa cozinha. Se bem que nós, meio intelectuais, meio de esquerda, quando convidamos uma moça para sair pela primeira vez, atacamos mais de petit gateau do que de frango à passarinho, porque a gente gosta do Brasil e tal, mas na hora do vamos ver uma Europazinha sempre ajuda.

Nós, meio intelectuais, meio de esquerda, gostamos do Brasil, mas muito bem diagramado. Não é qualquer Brasil. Assim como não é qualquer bar ruim. Tem que ser um bar ruim autêntico, um boteco, com mesa de lata, copo americano e, se tiver porção de carne de sol, uma lágrima imediatamente desponta em nossos olhos, meio de canto, meio escondida.

Quando um de nós, meio intelectuais, meio de esquerda, descobre um novo bar ruim que nenhum outro meio intelectual, meio de esquerda conhece, não nos contemos: ligamos pra turma inteira de meio intelectuais, meio de esquerda e decretamos que aquele é o nosso novo bar ruim.

O problema é que aos poucos o bar ruim vai se tornando cult, vai sendo frequentado por vários meio intelectuais, meio de esquerda e universitárias mais ou menos gostosas. Até que uma hora sai na Vejinha como ponto de artistas, cineastas e universitários e, um belo dia, a gente chega no bar ruim e tá cheio de gente que não é nem meio intelectual, nem meio de esquerda e só foi lá para ver se tem mesmo artistas, cineastas e, principalmente, universitárias mais ou menos gostosas. Aí a gente diz: eu gostava disso aqui antes, quando só vinha a minha turma de meio intelectuais, meio de esquerda, as universitárias mais ou menos gostosas e uns velhos bêbados que jogavam dominó. Por que nós, meio intelectuais, meio de esquerda, adoramos dizer que íamos a tal bar antes de ele ficar famoso, a tal praia antes de ela encher de gente, ouvíamos a banda antes de tocar na MTV. Nós gostamos dos pobres que estavam na praia antes, uns pobres que sabem subir em coqueiro e usam sandália de couro – isso a gente acha lindo, mas a gente detesta os pobres que chegam depois, de Chevette e chinelo Rider. Esse pobre não. A gente gosto do pobre autêntico, do Brasil autêntico. E a gente abomina a Vejinha, abomina mesmo, acima de tudo.

Os donos dos bares ruins que a gente frequenta se dividem em dois tipos: os que entendem a gente e os que não entendem. Os que entendem percebem qual é a nossa, mantém o bar autenticamente ruim, chamam uns primos do cunhado para tocar samba de roda toda sexta-feira, introduzem bolinho de bacalhau no cardápio e aumentam em 50% o preço de tudo. (Eles sacam que nós, meio intelectuais, meio de esquerda, somos meio bem de vida e nos dispomos a pagar caro por aquilo que tem cara de barato). Os donos que não entendem qual é a nossa, diante da invasão, trocam as mesas de lata por umas de fórmica imitando mármore, azulejam a parede e põem um som estéreo tocando reggae. Aí eles se dão mal, porque a gente odeia isso; a gente gosta, como já disse algumas vezes, é daquela coisa autêntica, tão raiz, tão Brasil.

Não pense que é fácil ser meio intelectual, meio de esquerda em nosso país. A cada dia está mais difícil encontrar bares ruins do jeito que a gente gosta, os pobres estão todos de chinelo Rider e a Vejinha sempre alerta, pronta para encher nossos bares ruins de gente jovem e bonita e difundir o petit gateau pelos quatro cantos do globo. Para desespero dos meio intelectuais, meio de esquerda que, como eu, preferem frango à passarinho e carne de sol com macaxeira (que é a mesma coisa que mandioca mas é como se diz lá no Nordeste e nós, meio intelectuais, meio de esquerda, achamos que o Nordeste é muito mais autêntico que o Sudeste e preferimos esse termo, macaxeira, que é mais assim Câmara Cascudo, saca?).

_ Ô, Betão, vê uma cachaça aqui pra mim. De Salinas quais que tem?

7 comentários:

  1. Em doses homeopáticas (sem trocadilho com a vida real), essa pinta, meio intelectual, meio de esquerda vai reaparecendo. Essa aí eu gosto mais de ler. E até comento! Também em doses homeopáticas, que é pra não viciar... ;)

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  2. ô Léééooo... duas obeservações:

    1. o seu amigo Pedro, que eu conheci no Chef Túlio, é super-mega-power-ranger "meio intelectual, meio de esquerda"

    2. já o Frango, é "meio intelectual, meio de direita" kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk...
    mas nada de recomeçarem a discussão, pelo amor de São Judas Tadeu, Amém!

    p.s.: você não tem amigAs "meio intelectuais, meio de esquerda" não? só citou os meninos! coisa machista... hahaha... eu me sinto "meio intelectual, meio de esquerda", porque eu gosto "do Brasil e tal, mas na hora do vamos ver uma Europazinha sempre ajuda." (rs), mas acima de tudo: eu abomino a Vejinha, abomino mesmo, acima de tudo! kkkkkkkkkkkkkk...

    zuera! adorei a pílula do dia! beijokas!

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  3. não viciar nos comentários, no texto, não viciar em quê?

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  4. ô, dona valéria, o meu amigo pedro é bem assim mesmo, rs. acho que o frango também é como vc descreve, pergunta aí pra sua vizinha.

    naturalmente tenho amigas, no feminino mesmo, meio intelectuais, meio de esquerda, o foco desse é que era para esse amigos aí ó, mas já que a carapuça serviu, no bom sentido, que seja apropriada!

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  5. e é importante registrar que ontem acabei indo a um bar meio intelectual, meio de esquerda, tomei algumas cachaças de Salinas - da melhor qualidade e inéditas, nenhum meio intelectual, meio de esquerda conhecia - e acabei encontrando alguns dos meus amigos meio intelectuais, meio de esquerda do post.

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  6. É nóis, titi...(aquela coisa toda)

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  7. Meu caro amigo,

    como bom "meio intelectuais, meio de esquerda" tenho me colocado no front, ampliando horizontes e descobrindo lugares para serem frequentados por nós, nos principais grotões desse Brasil autentico.

    Aguardo brevemente um encontro nalgum lugar pré-cult para tomarmos uma gelada, comermos um bilisquete e tecermos comentários sobre os assuntos mais variados.

    Muito obrigado meu cumpadre, pela leitura e pela sitação.
    abraços

    D.Quintela

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