quarta-feira, 15 de fevereiro de 2012

E agora, Arnaldo, pode ou não pode?

Normal eu não diria. Não é normal. Não pode ser. Essa coisa toda de faz de contas, de contos, de desencantos, assim assado, de reencontros mal arrumados. Só há desencontros. “Aqui na terra está tudo errado, seu guarda!”. “Peraí seu juiz, não tem vermelho não?”. “Quer enganar quem?”. Não é normal. Normal não, antes fosse, tá qualquer coisa menos isso, “esse pessoal já tá pra lá de Marrakesh”. Nada aqui é normal, e agora é aí, aqui em cima a coisa já tava preta, imagine então aí. Terrinha sem lei. Fiquei com medo, eu hein? Não quero fazer parte disso não, moço. Anormal também não acho, vai vendo, porque tudo já virou meio que tradição também, e lhes garanto: é como se tudo viesse do mesmo pote. “A gente vê tudo, tá seu moço?”. “Não se avexe não”. É um pote de ilusão. Um pote do não. Um pote cheio de enganação. “Tô só observando!”. Tudo da mesma laia, da mesma raia, da mesma saia. Saia! Saia! Saia!

Amanhã tem Moreré lá no Seu Orlando. Será que tu vai tá lá, seu guarda? Sei não. Normal não, eu não diria que não. Eu não acredito. Não daqui de cima. Sexta tem Beijo Elétrico lá na Savassi. E aí, vai poder? Sei não. Não dá para ver direito. Aliás, inclusive daqui de cima também não dá pra ver. Porque tem coisas que a gente até vê a olho nu. Mas outras não. Entendeu, zé do bambu? Nem precisa de zoom. Porque tudo se move, tudo se corrompe, tudo se vende, tudo se compra, nada se troca, tudo se engana. Domingo ferraram com a praça, mandaram fechar e o Queixinho tá lá, coitado, sofrendo. Um jogo estúpido de mal arrumações. E a gente aqui, nessa de fingir que entende. É como se fosse um sistema muito bonito, e funciona que é uma beleza. E é. Tem frituras, assaduras, e tem quibes também. Tem pra tudo quanto é gosto. “Vai um aí?”. “Quinhentinho paga...”. Só banana que não, né? Temos um abacaxi. Não preciso dizer com que letra começa e nem com qual termina. É melhor mandar todo mundo à merda. Não é normal, seu moço, isso não é normal!

Aqui em cima, outros que acabaram de chegar andam dizendo que por aí continua tudo na mesma, a mesma coisa, os mesmos trouxos. “O povo é trouxo, não é seu moço?”. Sábado tem Praia da Estação, e aí, vão deixar? Será que será, em? Domingo tem as misses, tem também o cacete e depois a Alcova. “Vamo invadí?”. Ano passado lá no 41 não foi bonito, em, lembrem-se disso! O bloco mais organizado do carnaval. Teve gente que viu, tudo uniformizado... Normal não, não pode ser, eu não entenderia, não aceitaria, e aí eu é que o diga: “vá à merda, seu vagabundo!”. “Ordem!”. “Os meninos estão indo estudar juntos na mesma sala, sabia seu moço?”. “É?”. “É, e ó que um tem sete e o outro tem nove”. “Pode Arnaldo? Não pode...”. Eu não. Eu não quero ficar nesse faz de contas de sermos o que a gente é, de fingirmos que os reencontros vêm, que vocês virão à tona, que as alianças se formam e se desmancham, essa de sabermos que os contos não existem. Conto de fadas aqui não. “Esse conto, seu moço, não existe!”. Aqui não tem bobo não, e aí embaixo também não! “Psiu, fica esperto, tá?”.

Normal seria se todos fossem normais. Se todos fôssemos. Porque na segunda tem mais, e na terça o Peixoto vem fechando tudo com chave de ouro. “Será que vem?”. “Pago pra ver, estarei lá!”. E o que é uma anormalidade, a não ser um resultado daquilo que se é, diríamos, normal? Anormal só os normais são capazes de ser. E vocês não o são. Anomalias, estripulias, regalias, covardias, isso sim é que é anormal, no sentido mais chulo. E é isso que vocês são. Um bando de delinquentes, inconsequentes, desesperados. Chulé, é isso que sentimos daqui de cima. Taquicardia. Fedor. “Vamo todo mundo pra rua galera, bora rapaziada!”. Dá vontade de vomitar. Até ele, que controla tudo aqui de cima, está vendo. “Sabiam, seus salafrários? Essa galera vai de qualquer jeito!”. É só isso que vemos daqui de cima. E é o tempo todo. São dois lados. E é muito claro. “Seus gananciosos duma figa!”. Vontade de descer não há, preferimos ficar aqui, por enquanto, já que nada vai voltar ao normal. Pelo menos não enquanto vocês todos estiverem por aí. “Entendeu, zero meia?”.

“Será que volta, moço?”. “O carnaval tá aí, a rapaziada quer dançar...”. "Tá todo mundo dizendo que vai pra rua, tá todo mundo querendo se divertir!". "Posso beber, pai?". "Será que vou poder mijar?". “Sei não, sei não, por que não pergunta para o prefeito, ou pro seu juiz, ou pro seu guarda, quem sabe eles não te respondem?”. “Ou então, ah! já sei!, quem sabe aquele moço ali na esquina tomando uma tubaína e comendo coxinha não te ajuda?”. “Ei, moço! Ei, moço! Vem cá!”. Fugiu...

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