quinta-feira, 31 de maio de 2012

Porque é amor...


Por que o amor
Quando amor,
A minha flor
A nossa dor.

Por que o amor
Quando flor,
A minha dor
O nosso amor.

Por que o amor
Quando dor,
O meu amor
A tua flor.

Por que o amor,
Por que a flor,
Por que a dor,
Depois do amor?

Por que o amor?
Por que amor?
Por que, amor?
Porque é amor.

quarta-feira, 30 de maio de 2012

Acho que Neruda não ligaria...


Porque a escrita é livre. E a cópia também. E eu só me dou ao luxo de copiar pouquíssimas coisas, dessas do tipo escolhidas a dedo, sofridas em cada vírgula e tocantes na alma. Coisas que aproprio de súbito, principalmente vindas de quem eu admiro muito, dessa gente vadia e libertina com quem eu naturalmente toparia uma noite dessas do tipo intermináveis, do tipo pra sempre, do tipo a base de muitos tragos, e de muitas risadas, e colorida, e de um romantismo imprevisível ao qual me entrego diariamente com uma máquina de escrever a tiracolo. Essa coisinha aqui é do Neruda, que tenho amado tanto, acho que como o Vinícius, pode ser que sim. Pois ambos me entendem. E me decifram também. Acho que a gente dialoga sem que eles saibam, tem vezes, pois absorvo cada ato, e cada gesto, e cada gole, e cada morte, e cada vida, são várias, e mesmo à distância no tempo, e mesmo em minha insignificante existência aqui de baixo, inalcançável, e mesmo sabendo que não, que talvez nunca haja encontro. Tanto é que outro dia resolvi aceitar meio que a contra-gosto e coloquei-me no meu verdadeiro posto, no único que tenho direito, permitindo-me apenas que essa foto aí do lado, tirada numa dessas intermináveis, de tanta inveja fosse direto para a parede da minha casa casa para que eu pudesse, enfim, alimentar o meu ego ferido, e deprimido, e então chamá-los de meus amigos, de poetinhas, de camaradas, e chamá-la de minha, a foto, por que não, e a poesia também.

Saudade

Saudade é solidão acompanhada,
é quando o amor ainda não foi embora,
mas o amado já...

Saudade é amar um passado que ainda não passou,
é recusar um presente que nos machuca,
é não ver o futuro que nos convida...

Saudade é sentir que existe o que não existe mais...

Saudade é o inferno dos que perderam,
é a dor dos que ficaram para trás,
é o gosto de morte na boca dos que continuam...

Só uma pessoa no mundo deseja sentir saudade:
aquela que nunca amou.

E esse é o maior dos sofrimentos:
não ter por quem sentir saudades,
passar pela vida e não viver.

O maior dos sofrimentos é nunca ter sofrido. 

domingo, 27 de maio de 2012

sabático


há muito venho detectando alguns sinais em meu corpo, não chegam a cicatrizes, mas marcam-me, é hora de parar, talvez, cuidar um pouco mais de mim, fazer um novo corte no cabelo, os poucos fios que tenho, comprar roupas mais coloridas, chicletes, algodões-doces, aprender a fotografar, ler novos livros, ver outros filmes mais belos, andar em marcha ré, acelerar, esquiar na neve, viajar de balão, tomar um café em Paris e sorvetes de vida em um quarteirão qualquer de Amsterdã, escalar montanhas, as mais altas, desenjaular-me dos dias, dos frios, sobretudo, experimentar bebidas novas, coisas novas, comidinhas exóticas, o novo, e escrever também porque é preciso, entender-me um pouco mais, recolocar-me em órbita, aceitar-me de uma maneira um pouco mais singela e leve da que me percebo ante ao espelho quando acordo em dias como hoje. o redor caminha bem, é verdade, e o trabalho também, e me deixa até satisfeito, projetos e convites não faltam, propostas, mas sinto-me infeliz na mesma medida em que tudo parece tão bem, há um vazio intocável e que precisa ser preenchido, e prestes está, mas indecifrável também. à minha volta, detecto, há um misto de luz e esperança, uma fumaça de paz, uma coisa suave de sentir, sensação estranha, porque não caibo mais em mim, e já tentei diversas vezes, forças não me faltam, e nem faltarão, mas sinto ainda que poderia muito mais do que como ando entregando-me aos meus dias gélidos que andam. quem sabe então um sabático, por hora, não seja o que eu precise, algo assim que ressignifique a alma, que revitalize esses dias sombrios e reorganize a calma, a minha, ansioso que sou, porque o problema não está em ficar ou partir, antes fosse, em ir embora ou abandonar tudo e começar do zero, de novo, em carne trêmula como a de um novato, ingrato, relapso e coadjuvante como ando, mas em reconduzir-me a mim, encontrar-me, sentir-me esbelto e recondicionar-me no agora,  no meu agora, no tempo recolocar-me, quem sabe, pois é preciso, pois é possível, pois angustiado estou no lugar comum do qual me ausento às vezes e aqui, entendendo-me como eu mereço, ou como estimo merecer um dia, já não dá mais.

sexta-feira, 25 de maio de 2012

Ando não querendo saber...


Ando não querendo saber muito de você, e de como andam os seus dias, e as suas frieiras, e as suas feridas, e os seus calos, se você ainda dá as suas corridinhas ou não, serelepe que era, se viajou nas férias, se ainda gosta de sorvete de chocolate, ou se agora é de doce de leite, ando fugindo-me dessa procura, da tua ausência, não quero ver-te ou ouvir-te, cansado estou de suas investidas intencionalmente escancaradas em fazer-me não distante da dor, e das suas histórias, e das suas estripulias, e das suas novas companhias, e dos seus antigos amigos também, não me interessa saber como será que anda esse teu jeito cafona de amar, de me fazer sorrir, pois ensinou-me bem, ou a sua fé de que um dia seríamos um só, juntos, até velhinhos, e que eu morreria antes que você sequer pensasse em partir ou que eu pensasse em redimir-me de mim, tanto teu que eu fui um dia.

Ando não querendo saber muito de você, mas não sai de mim onipresente que é, e dói, e então te encontro na rua, no clube, na padaria, nas viagens, nas músicas, nos livros, nos discos, nas calçadas, e na escrita também, não sai de mim porque não quer, vadia, é a maneira que escolheu de controlar-me à distância, posto que cômoda é a maneira de fazer-me eterno amante, seu, mesmo de cá, distante, nosso e do nosso amor jogado na lixeira da esquina da tua casa outro dia, mas não dá pra ser assim, não consigo, é mais forte que eu, carrego-te comigo em todas as pontes e em todas as feridas mal cicatrizadas, esteve comigo em Roma, em Paris, na Bahia, em Betim, em Berlim quando encontrei o Neruda também, fumamos muito, e tomamos uísque nas mesmas mesas que até hoje preparo para os nossos amigos imaginários, e quando tomo Malbec você também está presente em taça vazia, louco que fiquei depois que foi-se, e quando fumo na janela do trabalho observando os carros passarem também é difícil, pois tu estarás comigo por muito tempo ainda, pois desisti-me de mim e de tentar mudar tudo isso assim de uma hora pra outra, o trajeto da história, a própria história, eu, você, não luto mais com algo inestimável, contra algo muito maior do que a gente, do que a vida, do que o próprio amor, pois o amor, ah! o amor, uma vez amor sempre amor.

Ando não querendo saber muito de você e às vezes consigo, mas tem vezes que não, e então procuro no teu blog ou na tua rede social preferida, remexo nas gavetas largadas e mal resolvidas, encardidas, acho cartas e rebusco-me na alma, tolo que sou, escrevo, transcrevo, vou naquela pracinha antiga em que nos conhecemos e fico sozinho olhando as árvores por horas, e as folhas, e as crianças, e o moço da sanfona, e o do algodão-doce, e as flores também, e olha que nem estão mais tão bonitas como no mês passado, fico triste às vezes, mas a primavera está chegando e poderei voltar lá com mais calma, quem sabe, apreciar o outrora, ver a gente meio que de longe, apego-me a isto vez em quando e apeguei-me também, outro dia no metrô, a recordar de uma época em que íamos juntos para a aula, sofrimento que era, mas lindo também, fazíamos com que a estação do Eldorado se transformasse em ponto de partida e de chegada para o momento em que entrelaçávamo-nos em nós mesmos, e nos dávamos as mãos, nos entregávamos e andávamos de mãos dadas tipo namorados, apaixonados que estávamos, bonito que era, e pleno também, e rumávamos em direção a um nada que se revelava tudo pra gente, inteiros era o mínimo pra gente, e pro nosso amor, mas ando não querendo saber muito de você, sabe, assim de longe, e a seu respeito, pois dói no peito, pois dói nas unhas, pois dói na alma, e dá saudades, me dilacera, não quero mais, pobre rapaz, não sou capaz.

quarta-feira, 23 de maio de 2012

Um ano sem mim (e sem pedaços de mim)


Hoje eu completo um ano da minha vida sem mim, mas com vários eus encontrados ao longo dessa intensa saga em busca de algo, dessa busca desencantada e desaforada em certos momentos e à procura de encontrar-me, quem sabe, e encontrar também um caminho mais incerto ainda para que eu pudesse seguir, muito embora florido, pois lindo seria se me deparasse com girassóis e camélias à minha volta em uma estrada no campo dessas quaisquer que podemos imaginar-nos embriagados de vida. Lancei campanhas pelo amor, contra a dor, aceita-a da maneira mais poética e singela possível, lutei e relutei contra mim e contra o tempo, mesmo às vezes não devendo, dei o braço a torcer diante de situações que antes se colocavam como postes em minha frente, pedras no caminho que eram, viajei, inventei de escrever um livro, reiventei-me enquanto eu, criei nove projetos culturais e criei, também, estratégias mirabolantes para esquecer, ou superar, ou aceitar o passado, e até consegui em algumas vezes, muito embora em outras tenha me enfiado embaixo das cobertas da minha alma e escolhido ficar intacto, inoperante e preso inalcançável até que a luz do dia me jogasse para fora da cama porque era preciso seguir.

Hoje eu completo um ano da minha vida sem mim e, desesperado e angustiado que sou, deveras ansioso, devia pegar-me em prantos por agora e apegar-me ao choro, e não apenas pela trajetória natural à qual me embrenhei, mas porque a vida é assim, dura e delicada, e, coincidência ou não, e não menos dilacerante, apenas embrulha tudo em um único pacote do acaso, posto que perco simbolicamente também, nesta data nada querida, uma outra grande parte de mim: aquilo que eu me habituei a chamar carinhosamente por braço direito e perna esquerda, leais que somos, mas que com o passar do tempo preferi chamar de amigo, do peito, pois é o que somos de verdade. Estou falando da minha companheira diária de labuta que decidiu-se por ir, por seguir, por arriscar-se feliz em outro lugar que não o aqui com outro grande amigo que, coincidências à parte, fiz questão de apresentar. Orgulho-me de ser um padrinho natural desse amor, se assim posso me nomear, com a tua licença, pois é o que espontaneamente sou e com muito orgulho. E nem preciso citar nomes, e não citarei, pois quem me conhece sabe muito bem do que eu estou falando.

Hoje eu completo um ano da minha vida sem mim, e agora sem outros pedaços de mim, também, e talvez devesse mesmo revelar-me um pouco impregnado de tristeza, posto que isto se aproxima de um filme de terror tragicômico em meu peito, árduo e ardido que será daqui em diante. Porque a gente sabe da dureza de ser quem a gente é e, adaptáveis que somos, nos preparamos para esses momentos, essa coisa de sermos como a gente estima ser um dia, inteiros, mas pegamo-nos muito menores do que nos vemos em frente ao espelho antes de sair de casa e acabamos por revelando-nos, tem vezes, completamente despreparados e desmotivados para seguir, mas temos de, e nisso criamos alternativas para superarmos as atrocidades que se esbarram em nós ao longo dessa estrada sem fim.

Hoje eu completo um ano da minha vida sem mim, e devia estar pior. Os remédios estão acabando, já comprei novos, e continuo inventando escolhas que antes não se apresentavam a mim como opções. Mas, pelo fato de contraditórios sermos, sinto-me um pouco mais vivo por hora, e torto e flácido também, por que não, mas satisfeito na medida em que vou me desacontecendo de pouco em pouco ao ver pedaços de mim esvaindo-se, fugindo às minhas mãos, mas também por saber onde eu em tese deva procurar forças para o enfrentamento, ou soluções, ou outros fieis escudeiros e até mesmo nos antigos amigos, quem sabe, aqueles que não saíram de férias no ano que se passou, talvez em mim mesmo, pois sei que precisarei formar um time repleto de tentáculos que seja suficientemente belo não apenas para que me faça seguir, fluir, flanar, mas para que me induza até a mim, de novo, lá na frente em um não-lugar que ainda não consigo pegar.

Hoje eu completo um ano da minha vida sem mim e daqui, como lhes disse outrora, vou indo ao meu encontro. E o post de hoje pode até não fazer muito sentido para você, caro leitor, mas saiba que reside em mim uma insignificância tão profunda que chego a considerá-lo um dos mais tocantes e precisos ante à minha fúria, posto que coloca o dedo na ferida mais aberta e ainda não cicatrizada no meu coração, esse que costumo chamar de menor abandonado, e também pelos últimos passos que a vida obrigou-me a dar e que têm me levado a um lugar mais irreconhecível e intocável e distante ainda do que o que eu estava antes que isso tudo começasse. Triste estou. E depressivo também. É como se fosse um fim e um começo simultaneamente intercalados, o acaso é assim mesmo, pois pequeno é o que sou, é como eu me sinto hoje, mas grande o suficiente para encarar tudo isso de uma só vez, e ao mesmo tempo, e agora, porque depois de uma ponte vem outra, e depois outra, e depois outra mais longa, série interminável, mas daqui a pouco não mais, daqui um ano quem sabe, ou dois, talvez, e aí vou te encontrar em uma praça abandonada qualquer, prezado eu, e enfim seremos um só.

sexta-feira, 18 de maio de 2012

a ausência que corrói


pois esse choro que surge assim, do nada, ainda me matará pela segunda vez antes mesmo que eu me pegue sozinho em uma esquina de um lugar qualquer dessas em que a gente encontra outros eus se proliferando em grãos e desfazendo-se em matéria. e gastará os meus dias, também, e a minha energia que outrora estava carregada em duzentos e vinte na tomada aqui de casa ao lado do meu quadro vermelho preso a muito custo depois da minha primeira morte e que anda meio que fraca por agora tipo pilha dessas que não são alcalinas. as pequenas notas amassadas de poucos reais que ainda restavam-me na carteira velha e rasgada esvaíram-se em pacotes desses que se compra em farmácias homeopáticas e as roupas andam velhas por demais para apresentar-me de uma maneira suficientemente diferente aos iguais que se aproximam diariamente dessa minha ausência de mim, enquanto caminho a passos largos em direção ao portal de um nada que se concretiza em forma de vazio na medida em que insisto em existir.

triste não, se fosse, talvez fosse, é uma ausência que corrói mesmo, dessas que dilaceram até a melindragem da alma, a mesma ausência que me fez chorar outro dia, ou outros dias, tantos, a mesma ausência que sinto em mim entranhada, em meu peito, à qual tanto venho encarando para poder desarmar-me das munições pesadas que tenho juntado ao longo dos meus dias, esganado que sou. é temporada de retroagir, talvez, de entrelaçar-me em meu cobertor sombrio e nos travesseiros de penas do cazaquistão e de lá não mais sair, constato, ou de não querer sair, pois tenho de me sentir doído em demasia, e não poderia ser diferente, ao passo em que me entrego ao fato de ter de fazer algo em meio ao turbilhão de pensamentos desvanecidos que colocam-me em crise nessa questão de ser que me pegou novamente, e note que o inferno astral já passou, mas datas simbólicas novamente se aproximam e o melhor a se fazer nesta hora é partir de novo, como estou prestes a fazer em poucos minutos. porque se existem certas pessoas que nunca mudam, mesmo tendo-se moldado carcaça como agora eu me sinto, estranho que sou, hoje eu posso dizer com propriedade de quem vive ou tenta e deve seguir que eu sou uma delas, ao mesmo passo indiferente, pois uma vez flamengo, literariamente falando, sempre flamengo, e assim a história se repete, e continua. pra mim já deu.

segunda-feira, 14 de maio de 2012

Pequenas pílulas da angústia de quem quer seguir


Queria ter uma licença dessas de governo para interesses particulares e poder, enfim, entregar-lhes a obra que há tanto matuto diariamente em minhas entranhas para finalizar, quem sabe um dia, e em tempo de revelar-lhes a minha face mais genuína e verdadeira, que anda oculta e transviada ante às mazelas e às nuanças do dia-a-dia, disso que costumo chamar por labuta e que usamos, tem vezes, para alimentar-nos durante os trilhos que nos levarão até um lugar onde a gente possa se encontrar. Eu, comigo e com a gente mesmo. A nossa verdadeira face um pouco mais desnuda e desfigurada da forma como lhes apresento hoje, a minha pessoa torta, essa segunda pessoa carregada por consoantes e vírgulas mal escritas, mal ditas, essa pessoa plural e impessoal que estou hoje, carregada de angústias e feridas. Um eu desencontrado e desencantado, muito embora achado facilmente em uma esquina dessas quaisquer entregue àquilo que não me pertence, mas que faz-me dar conta do tipo faz de contas, motor da alma, e nisso vou vivendo a angústia de quem quer seguir, e tenta, mas não consegue por estacionado estar em um lugar supostamente inalcançável e indecifrável, pois é difícil estimar, e um pouco vago também. Pois não há ferramentas suficientes para ludibriá-lo, insisto, esse caminho tênue que escolhi para seguir e de onde eu não posso sequer cavar um drible desses que os candidatos a craques da vida conseguem com tanta destreza como de quem simplesmente vivo está, e o estão em demasia ao contrário de mim, posto que na estrada onde perneio, e esperneio, onde vago em montanhas frias, sombrias e distantes de onde eu queria estar, gélidas que são, ou de onde eu poderia estar, o assassinato da minha alma e a morte da minha escrita e do livro que caminho a passos largos para entregar-lhes parecem-me iminentes e assombram-me em cada passo em rumo ao lugar mais incerto possível onde eu poderia querer chegar ou onde eu pudesse ter alguém para tocar, um outro eu para sentir, sentido-me então estaria. Mas desisto-me de mim antes mesmo de alcançar, ou de tentar, indelicado que sou, e também de achar qualquer luz no fim do túnel ou da ponte dessa estrada longa e imaginária que já foi amarela um dia, breu que está da forma como os meus dias se apresentam, pois continuo aqui querendo-me encovado nesse caminho sujo de poeiras das tréguas do mundo e do passado onde eu me encontro hoje, em tiroteio dilacerante, desvanecido que sou.

sexta-feira, 11 de maio de 2012

o outro lado da felicidade


porque a minha felicidade, hoje, é bem mais complexa do que a que relatei outro dia, que já era complexa por demais, e angustiante, e dilacerante, talvez, mas não tanto como me sinto agora, indiferente, cru, é diferente, estranho, faz-me mórbido e insensato o suficiente para aceitar que não há beijo na boca ou sexo bom que me colocaria em prantos de alegria, ou a sua volta, o seu voltar atrás, e que não há estripulia que não seja covarde o suficiente para mudar-me do que estou agora, onde estou em um lugar sem equilíbrio algum, estático e imóvel, distante e corrompido, e não é por ti, ou por mim, ou por nós, mas por tudo isso que chamamos de conviver em sociedade, às vezes suja que é, ou viver, simplesmente, demasiado difícil, pois mente insana não é a minha, não mais, não agora, já foi outrora e hoje sou um peixe fora d'água, esse é o meu nome, sobrenome ausente, mas a tua, a tua mente que é insana e corrompida simplesmente por pensar que eu poderia ouvir tudo isso de uma maneira tranquila e serena, e que fosse deixar passar sendo um igual, o que não sou, nunca seria, pois tenho buscado um eu novo, sabe?, alguém mais eu, diferente de você e do teu universo maligno, e não o seria jamais sem revelar-te por inteiro, e por agora, o que as minhas entranhas queriam vomitar-te da maneira mais estúpida e límpida, e não pela metade, que pudesse existir. incompreensível é o que sou, é o que estou hoje, é como me sinto, repreendido e deitado no chão do mundo em minha versão mais imunda, e inoperante, e longe de mim, e longe de tudo, e longe de sempre.

quarta-feira, 9 de maio de 2012

Um presente, agora, para ela


Uma tenta, a outra cansa, um novo vem, o antigo vai, o pai ajuda, eu mesmo tento, reluto, mas só quem sabe cuidar de mim é a minha mãe. Não tem jeito. E ponto. Foi ela quem escolheu o meu primeiro tênis e a blusinha de ir pra escola, foi ela quem cuidou da gripe e fez chazinhos e comidinhas quando adoecido eu estava, era ela também, dentre tantas e tantas e tantas outras, que comprava o meu lanchinho na hora do recreio e reservava um precioso lugarzinho para que eu não perdesse um minuto sequer longe dos tabuleiros, por que eu amava e ela sabia disso. Mãe é mãe e quase todo o resto é bosta (com todo respeito). Pai é pai também, claro, não se discute, não discuto, mas deixo-o um pouquinho de lado nesse post, com a sua licença, pois outro dia já recebeu um textinho só seu e hoje, afinal de contas, o aniversário é dela. Parabéns!

A minha mãe se chama Deborah. Debora-agá. Isso mesmo. E Debora-agá é forte, é guerreira, é de touro como eu, elemento terra, é a garra em forma de ser humano. E sorri. E como sorri. Da vida, pra vida. E ri também, muito. Dos causos, dos contos e até da tristeza, a danada. E ainda cuida da vó, ajuda o pai a cuidar do vô, cuida do pai também e ainda, mesmo de longe, cuida de mim, desse que vos escreve, esse filho único e mimado que ela teve coragem de soltar no mundo e que fica distante de casa brincando de ser poeta na vida. E ela? Ela apoia, é claro. Confesso que escrever sobre o pai foi mais fácil. Pragmático que sou, detecto minuciosos detalhes de suas características. Sobre ela, quase impossível. Não há como mensurar até onde vai a sua capacidade de ir, de viver, de sorrir, e portanto não haveria características ou palavras suficientes que decifrassem e traduzissem o seu amor por mim, pelo meu pai, pela vida. Eu, ela e o pai. Vida. É isso que somos. O artista é ele, eu apenas um sonhador, ou um tentador, mas a nossa fortaleza é ela. É ela quem nunca deixa a peteca cair. Jamais vi alguém assim, do tipo que luta tanto pelos seus sonhos, e pelos nossos também, mais até do que pelos dela, abdica-se tem vezes, e nisso eu puxei um pouco talvez. E foi assim, num dos movimentos mais belos e audaciosos da sua vida, corajosa que é, virou artesã. Agora é artista também e o pai, companheiro que é, nem ciúmes teve, ao contrário, é o seu maior escudeiro. Acredita? Pois é, foi lá a danada e criou o seu ateliê. O ateliê do bebê. Se vai dar certo, se vai virar carreira, se vai ficar rica, isso pouco importa, pois que importa mesmo é a felicidade que isso tudo lhe emprega, é a sua maneira de fugir do mundo e ao mesmo tempo encará-lo com vontade de quem quer seguir, e segue, como com todas as dificuldades lhes impostas pela vida e de todas as barreiras que mais pareciam diques de tão grandes, sabemos bem, mas que ela matou no peito e decidiu carregar consigo.

Existe, sim, amor incondicional. A vida nos conta. É revitalizante, reconfortante, gostoso e, porque não dizer, a revelação mais pura que a gente pode querer enquanto traceja o nosso caminho. Coisas que a gente não sabe quando é adolescente rebelde mas que vai desvendando aos poucos. E que às vezes se esquece também - das raízes, dos pais, da família -, e eu o faço com frequência, confesso, por conta do trabalho, da labuta, dos problemas, dessa vida de ser gente grande na cidade grande no meio de tantas outras gentes grandes maiores que eu e mais fortes, e sozinho, quase sempre, muito embora sabendo-me amado sempre, pois mesmo à distância sinto-me completamente coberto por beijos, abraços, carinhos e afetos deles, do lado de lá, do pai e da mãe. E hoje, do lado de cá, num dia desses de trabalho intenso, o filho-chato-mandão-falso-escritor-produtor-sonhador deu uma fugidinha para descer um pouco do salto preferindo ser só filho, sem mimos, o teu filho, e agradecer pela entrega completa sua com a vida. Com a minha e com a do meu pai. Com a nossa. Porque se no final das contas a gente nasceu pra amar, pra ser feliz, está aí uma pessoa que faz isso melhor do que ninguém. E se o meu pai é o jazz, como afirmei outro dia, resta-me dizer por hora, e de peito aberto, que a minha mãe é uma banda inteira.

Feliz aniversário!
Te amo.

quinta-feira, 3 de maio de 2012

nesta data querida


ontem eu cheguei já tarde da noite de viagem e sequer percebi o que se passava comigo, ao longe pairava a minha alma, e que mais um aniversário estava a caminho. e veio-me, então, quando a madrugada me acolhia em seus ventres frios e frígidos de tão vazios, mas dormi tão distante hablando portunhol no sonho como se em terras chilenitas ainda estivesse, fizeram-me bem, que apaguei como se fosse um anjo, sem lembrar, ou como se um ontem ainda longe desta realidade real em demasia na qual me encontro hoje. distraído que sou, acordei não lembrando-me de nada, do que era hoje, acordei tarde, e como sempre fui meio distraído comigo mesmo não liguei, mas de súbito enquanto saía do banho ainda enrolado na toalha azul marinho ganhada no verão passado e em meio à fumaça de vapor que à minha volta me envolvia como se cortina, lembrei-me desta data simbólica que carrego comigo há muitos anos desde o dia em que eu nasci e desde o fatídico dia, também, em que eu morri pela primeira vez, desastrado que sou. diante do espelho escrevendo palavrinhas cafonas de amor a mim e parabenizando-me em minúsculas, recordei-me também dessa coisa meio altruísta de ser que sem-querer-querendo e me esforçando por demais acabei por sê-lo ao longo da estrada, dessa minha caminhada longa e serena, muito embora tortuosa e dolorosa, mas lembrei-me, também, que de uns tempos para cá eu me mudei um pouco meio que à força, talvez os cabelos envelhecidos ou as vãs tentativas de me transformar num poeta revelem-me isto, e intencionalmente escancarado resolvi egoísta ser, e acabei sendo, ou pelo menos um pouco, aceitei dar-me uma pitada do tanto amor que carrego em minhas veias que ardem e latejam pulsantes em cada movimento insensato de descoberta, transbordei-me em mim nessa coisa incompleta e plena que estou hoje, pois é como eu me sinto, entreguei-me em prantos como se nunca e topei o desafio de encarar essa coisa à toa de tentar seguir, pois tudo segue, e de não ser feliz em vão desejando-me então frenético e controverso, nesta data tão querida e simbólica, um feliz aniversário, mesmo que traduzido por uma escrita vomitada e desenfreada em pequenos minutos de repouso literariamente insano nesta máquina antiga que ganhei da minha falecida tia. mereço-me em mim e mereço, ao longe ou ao fim, os balões que sempre lhes entrego ou os algodões-doces que lhes ofereço em dias como estes, porque o festejo da minha alma não deve ser apenas cultivado e escancarado, posto que desequilibrado e intenso, mas sobretudo não deve-se tardio ou obscuro, jamais, posto que esta danada, esculachada e vadia que costumo chamar por vida uma hora se esvai. tim-tim!, então, pois celebrar é preciso.