quarta-feira, 9 de maio de 2012

Um presente, agora, para ela


Uma tenta, a outra cansa, um novo vem, o antigo vai, o pai ajuda, eu mesmo tento, reluto, mas só quem sabe cuidar de mim é a minha mãe. Não tem jeito. E ponto. Foi ela quem escolheu o meu primeiro tênis e a blusinha de ir pra escola, foi ela quem cuidou da gripe e fez chazinhos e comidinhas quando adoecido eu estava, era ela também, dentre tantas e tantas e tantas outras, que comprava o meu lanchinho na hora do recreio e reservava um precioso lugarzinho para que eu não perdesse um minuto sequer longe dos tabuleiros, por que eu amava e ela sabia disso. Mãe é mãe e quase todo o resto é bosta (com todo respeito). Pai é pai também, claro, não se discute, não discuto, mas deixo-o um pouquinho de lado nesse post, com a sua licença, pois outro dia já recebeu um textinho só seu e hoje, afinal de contas, o aniversário é dela. Parabéns!

A minha mãe se chama Deborah. Debora-agá. Isso mesmo. E Debora-agá é forte, é guerreira, é de touro como eu, elemento terra, é a garra em forma de ser humano. E sorri. E como sorri. Da vida, pra vida. E ri também, muito. Dos causos, dos contos e até da tristeza, a danada. E ainda cuida da vó, ajuda o pai a cuidar do vô, cuida do pai também e ainda, mesmo de longe, cuida de mim, desse que vos escreve, esse filho único e mimado que ela teve coragem de soltar no mundo e que fica distante de casa brincando de ser poeta na vida. E ela? Ela apoia, é claro. Confesso que escrever sobre o pai foi mais fácil. Pragmático que sou, detecto minuciosos detalhes de suas características. Sobre ela, quase impossível. Não há como mensurar até onde vai a sua capacidade de ir, de viver, de sorrir, e portanto não haveria características ou palavras suficientes que decifrassem e traduzissem o seu amor por mim, pelo meu pai, pela vida. Eu, ela e o pai. Vida. É isso que somos. O artista é ele, eu apenas um sonhador, ou um tentador, mas a nossa fortaleza é ela. É ela quem nunca deixa a peteca cair. Jamais vi alguém assim, do tipo que luta tanto pelos seus sonhos, e pelos nossos também, mais até do que pelos dela, abdica-se tem vezes, e nisso eu puxei um pouco talvez. E foi assim, num dos movimentos mais belos e audaciosos da sua vida, corajosa que é, virou artesã. Agora é artista também e o pai, companheiro que é, nem ciúmes teve, ao contrário, é o seu maior escudeiro. Acredita? Pois é, foi lá a danada e criou o seu ateliê. O ateliê do bebê. Se vai dar certo, se vai virar carreira, se vai ficar rica, isso pouco importa, pois que importa mesmo é a felicidade que isso tudo lhe emprega, é a sua maneira de fugir do mundo e ao mesmo tempo encará-lo com vontade de quem quer seguir, e segue, como com todas as dificuldades lhes impostas pela vida e de todas as barreiras que mais pareciam diques de tão grandes, sabemos bem, mas que ela matou no peito e decidiu carregar consigo.

Existe, sim, amor incondicional. A vida nos conta. É revitalizante, reconfortante, gostoso e, porque não dizer, a revelação mais pura que a gente pode querer enquanto traceja o nosso caminho. Coisas que a gente não sabe quando é adolescente rebelde mas que vai desvendando aos poucos. E que às vezes se esquece também - das raízes, dos pais, da família -, e eu o faço com frequência, confesso, por conta do trabalho, da labuta, dos problemas, dessa vida de ser gente grande na cidade grande no meio de tantas outras gentes grandes maiores que eu e mais fortes, e sozinho, quase sempre, muito embora sabendo-me amado sempre, pois mesmo à distância sinto-me completamente coberto por beijos, abraços, carinhos e afetos deles, do lado de lá, do pai e da mãe. E hoje, do lado de cá, num dia desses de trabalho intenso, o filho-chato-mandão-falso-escritor-produtor-sonhador deu uma fugidinha para descer um pouco do salto preferindo ser só filho, sem mimos, o teu filho, e agradecer pela entrega completa sua com a vida. Com a minha e com a do meu pai. Com a nossa. Porque se no final das contas a gente nasceu pra amar, pra ser feliz, está aí uma pessoa que faz isso melhor do que ninguém. E se o meu pai é o jazz, como afirmei outro dia, resta-me dizer por hora, e de peito aberto, que a minha mãe é uma banda inteira.

Feliz aniversário!
Te amo.

4 comentários:

  1. tô com ciúmes.......mas ela é mais do que isso....e muito mais....nós somos amores da vida dela

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    1. Filho, que lindo! Sua poesia me fez parecer muito melhor do que realmente sou! Te amo!!!!!!!!!!!!!!!! Mãe

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  2. Falar da bondaade que sao as pessoas é a forma mais expressiva do respeito ao próximo e a demostraçao mais profunda do que é amar! Sua mae é linda! Por natureza, é igual aminha. Nao atentei as fotos. Nao consigo enxerga formas naquilo que amamos.

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    1. Querido Anônimo, tenho acompanhado diariamente os seus comentários e confesso-lhe não saber muito bem por onde começar. Esse é só o primeiro, vou responder todos eles, mas tem vezes que chego a achar que somos a mesma pessoa, ou siameses, ou complementares em uma escrita singela e levemente melancólica, pois é o que nos faz seguir. Seja muito bem-vindo ao blog e, claro, continue comentando porque não há combustível tão infalível como este. Faz-me ter vontade de escrever mais, e mais, e mais, e talvez para somente quando cruzar a ponte, aquela ponte, uma ponte qualquer. Obrigado.

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