segunda-feira, 30 de julho de 2012

sabe que ontem?


sabe que ontem enquanto eu acordava ausente e a observar a falta ao meu redor me peguei a pensar em você, e depois em você, e depois em você de novo, mais uma vez, e depois na gente, preencheu, e depois na gente ensaiando se beijar na boca e se tocar numa tarde dessas quaisquer silenciosamente no breu da sala antiga de cinema daquela praça de nome estranho no centro da cidade assistindo a um filme cafona desses de amor pra sempre e com suave timidez não-revelada, não rebuscada, e com as mãos sujas de pipoca acariciando-nos meio que escondidos por debaixo da blusa devido ao frio dilacerante, eu na sua com certo receio da tua reação e você na minha com toda a força do teu ventre, e a gente na nossa confirmando em nós aquele instante em sincronia e nos entrelaçando como se desapegados do resto do mundo ou do resto de tudo ou do resto de nada porque nada seria pleno, a partir de então, além das nossas trocas de olhares despercebidas na escuridão, não seria bom?

sabe também que ontem mesmo, um pouquinho mais tarde e já quase suando como se um remador incansável com certo receio de permitir-me acesa novamente essa chama de outrora esquecida atrás da máquina de escrever da minha vaga memória reluzente, e meio que sonhando tipo um bobo acordado, estimo, eu voltei a pensar em você mais um pouco, e depois mais um pouquinho na gente e em como você ou a gente ou esse surpreso acaso tem dominado os meus recentes pensamentos e esses tortos devaneios que galgam a me atormentar?, fiquei pensando também em quando é que que essa chavezinha resolveu virar direcionando-nos à gente e às nossas entranhas até então intocáveis, ao recomeço daquilo que nunca existiu aparentemente mas que por mais improvável talvez sempre tenha estado ali à espreita aguardando a dose certa de agora, desse agora, foi tudo meio que de súbito ou quase tudo porque completo ainda não poderia afirmar pois é apenas um tímido começo isto que permito-me arquitetar por agora com pitadas de pausados suspiros de ansiedade como tentei rascunhar-lhe noutro momento não tão distante e até então impalpável e intocável, muito embora insaciável, muito embora eu, muito embora seu, nosso, muito embora a gente tentando ser mais a gente mesmo, sabe?, inesperado encontro.

e sabe ainda que ontem, já quando a noite caía e eu de forma inusitada e desenfreada entregava-me ao delicado asfalto negro e macio que me engolia ferozmente ante à fúria da minha alma em alto e bom som diante desse agora encantador impreciso, me deu vontade de largar quase todo o resto e quase todas as perambulanças por terrenos desconhecidos e alheios que eu vinha planejando há dias ou há meses ou há anos, não sei bem, para ficar só assim pensando, pensando, pensando?, pensando em você, pensando na gente, pensando em como seria bom parar de pensar um pouquinho por hora e te encontrar numa quase noite dessas quaisquer no breu da sala antiga de cinema daquela praça de nome estranho no centro da cidade, talvez, para assistirmos a um filme desses mais generosos e de tirar o fôlego com arrepios, sabe?, grudarmos as mãos e permanecermos meio que estáticos sentido-nos delicadamente no roteiro dos nossos dias e desse não-sei-o-quê-nosso ainda não consumido ou digerido ou que ainda não é nosso por um simples detalhe ou por medo ou por receio, bobos que somos, devíamos mesmo era nos jogar nesse quase sem limites para sonhar que já nos permitiu simplesmente pensar, imagine, já não é bom? pois é... e sabe que ontem, ou depois de ontem, ou já era hoje?

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