e
tinham pipas, e skates, e carrinhos de rolimã, e pipocas doces dessas murchas
deliciosas de saquinho vermelho, e salgadas também, e cachorros-quentes, e
churros de doce de leite e de chocolate ou mistos, pouco importa, e flores
desabrochando-se ao redor, e outras novas surgindo, e muita alegria pois tinham
famílias inteiras dessas que se compreendem felizes em demasia, e um jazz suave
da década de trinta tocando ao fundo despretensioso, e os técnicos, e os
músicos, e os bancos vazios, e um gramado verde reluzente, e as árvores, e as plantas,
e as folhas espalhadas em volta, e um parquinho cheio de crianças fingindo-se
inocentes na cidade confusa, e os moços de patins, e as moças de bicicleta, e
os casais namorando-se escondidos nas sombras com seus piqueniques encantáveis
e com suas esteiras coloridas, e muitas lancheiras, e muitos sorrisos, e muitos carinhos, e tinha também os meninos serelepes
brincando de pique e as meninas delicadas montando as suas casinhas, era
possível avistar, tinham meninos montando casinhas e meninas brincando de pique
também, porque somos assim afinal, e os velhinhos soltando pipa, e as velhinhas
tomando chimarrão, e mais alguns outros nem tão velhinhos jogando xadrez, dama
ou gamão e o mundo invertido, não me recordo bem, e tinha o sol decadente
esquentando, e uma lua meio cheia e meio tímida ao fundo, cenário sem igual, e a brisa pairando, e o frio
chegando, e o povo esperando um sinal qualquer, e o jovem rapaz cantando para a sua musa
a tiracolo, e a sua musa observando-o apaixonada como se nunca, olhos
nos olhos porque o amor é assim, bonito, e tinha o lixeiro despercebido em meio ao caos
instalado, e os pipoqueiros também, e os carteiros também indo e vindo em meio
à cidade esquecida, a cidade que os esqueceu, e tinham senhores, e tinham
senhoras, e tinham doutores, e tinham falsos atores, e tinham até pintores, e
escritores, e esportistas, e artesãos, e sonhadores, e tinham ricos e pobres
ocupando-se do mesmo espaço porque isso também é viver em paz e é a nossa
maneira de sobreviver, ou devia ser ao menos, e tinha eu também, por fim, e em
mim, e talvez também em paz comigo e consigo ensaiando-me amar e refletindo
sobre como talvez pudéssemos estar daqui a pouco deitados na grama de mãos
dadas com os pés entrelaçados e olhando ao céu azul sem nuvens e sem compromissos e sem arco-íris ou
vírgulas ou raios que nos jogassem em prantos, e sem muita confusão também, ao
contrário, em um tempo tipo por agora ou muito em breve, quem sabe, mas já sem
muitos intervalos entre hoje e amanhã, ou entre eu e você, ou entre a gente sem
mais desencontros, pois ando gostando muito de sentir-te bem pertinho aqui do meu lado
quase sempre... não é bom?
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