eu
sabia que juntos faríamos da dor um prazer e mesmo assim era impressionante a
minha capacidade de amá-la e a dela de partir quando anunciava pelos seus
contos quais seriam os seus próximos movimentos ao passo em que o mundo
ia acontecendo e eu, desastrado, cada vez mais me desacontecia. no escuro do
meu quarto sozinho, na madrugada feito breu, eu era capaz de tocar a solidão
nas estrelas e percebia-a também engatinhando suave por entre as minhas mãos a cada sílaba pronunciada. não
estava no silêncio, não, mas muito bem guardada no grito mais profundo da minha alma. era ali o seu lugar. talvez fosse tarde, e talvez ela já tivesse partido como
sugeriam-me os contos, mas ainda percebia aflito na esquina dos meus olhos negros cansados o
quão belo poderia ter sido esse estranho e desconhecido amor porque sentia uma
luz muito forte dessas como se houvesse vida, como se houvesse chance de ainda tocá-la ou de tocar as nuvens, como se
houvesse enfim o amor projetado enquanto eu realizava que para ser feliz eu tinha de ser
triste na mesma medida ao tempo em que passei a aceitar rigorosamente esse
amanhã depois de tanto hoje estático nos últimos tempos da minha vida sem mim.
eu aceitei e teria preservado a ideia genuína do amor à minha maneira, fosse tempo, mesmo
que ele tivesse partido sem o prelúdio das desditosas cenas que ainda se anunciavam. mas como se diz adeus a alguém com o qual não se
sabe viver sem?
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