quinta-feira, 20 de junho de 2013

delicadeza

sussurrava o vento coincidente.
silenciosos e em química,
encontramo-nos neste setembro.
é primavera!
e houve o toque.
a pele.
houve o impávido e suave acaso à porta,
o inesperado presente.
instantes.
o inevitável desejo à espreita:
revelação.
sentido antigo que esvai, sinto.
sentido antigo que esvai, vai...

existem flores do lado de lá,
talvez existam de cá também.
eu em busca de mim e da leveza impalpável,
ao encontro do meu corpo.
tu em busca de ti e da tua verdadeira face,
dos teus verdadeiros gestos,
do teu mais sincero e estúpido gozo.
límpido!
quero-te em pitadas. quero-te limpa. quero-te tua. 
queira-me como podes, ou como queres, ou como podes querer-me. 
nu.
queiramo-nos como pudermos ser: 
leves.

não há urgência. mas há sinais.
o corpo fala, diz muito.
tem vezes grita.
urra! _________,
sentido vem.
vem...
palavras-tom.
som!
queira-me em silêncio. querer-te-ei assim também.
não me prometa muito,
não me prometa nada,
mas lhe prometo vida.

apenas venha fresta e olha-me nos olhos,
beije-me o teu beijo vermelho, a tua boca vermelha,
os teus lindos lábios vermelhos.
suja-me todo e sinta-me em teu corpo.
tocar-te-ei sem cócegas, então,
como tocam o céu as andorinhas,
como os mais puros acordes arranham-te as costelas.
tocar-te-ei as entranhas até o gozo mais estúpido e límpido da tua alma,
vivo.
e olhar-te-ei enfim como olham os olhos mais possíveis desse impávido e suave acaso:
livres.

sinta-se no instante, deixe se impor sobre o tempo.
o tempo. o tempo. o tempo.
relógio-tempo.
entrega-me um conto e devolver-te-ei uma carta.
sinta-te em teu corpo e suja-te toda com os teus dedos,
olha-te em teu beijo e beije o teu próprio rosto com as tuas palavras doces,
a tua boca vermelha,
os teus lindos lábios vermelhos.
despeça-se viva e toque-se na medida mais estreme da leveza encontrada.
me encontrarás por lá também.

sintamos os sintomas.
sintamos.
sintomas.
uma flor do lado de cá,
uma rosa do lado de lá:
papeis em branco a preencher.
deixe impor-se tácito o tempo
no tempo, no tempo,
relógio-tempo.
e seja como for mesmo no breu do presente:
__________, nova!

escorra-me os teus beijos vermelhos, os teus lábios vermelhos,
a tua boca vermelha, o teu ventre vermelho.
escorra-me toda a delicadeza e a tua verdade impregnadas no teu corpo,
jorra-me!, goza-me!,
goza-me todo!
todo!
delicadeza!
limpa-te e goza-me o teu gozo mais estúpido e límpido sem a pressa de termos,
ou sem a pressa de sermos,
ou de tocarmos as nossas entranhas impalpáveis.
aceitemo-nos sem os espinhos do relógio-tempo no que nos há de melhor por agora,
impávidos.

chamemo-nos suave acaso, ao acaso, e sejamos então.
e enfim.
a urgência mata.
mata.
mata.
goza-me inteiro, 
e por agora.
______________!
dois pontos:

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Poesia contemplada pelo Concurso Nacional Novos Poetas (Prêmio Sarau Brasil 2013).
A versão original já havia sido publicada neste blog, no final de 2012.