tenho
escrito pouco, em meus dias. tenho vivido pouco esses meus dias. alguns, bons. outros,
nem tanto. benza deus, alguns me restam. e a eles me apego para seguir. quando tomo um café com broa, por vezes, os meus olhos brilham. o corpo treme, um calor suave domina os pulmões, projeto-me no imediato instante de ontem, que se transforma a cada dia em amanhã bem vivo. trabalho
muito, conquisto um espaço que já não era meu. mas, quem era eu? ainda me busco
entre os céus azuis de outrora, as palavras perdidas no tempo, a parede
amarela, o quadro vermelho, os desejos interrompidos, o conto que não pôde lhe
ser entregue, a vontade abrupta do toque. tenho escrito pouco, mas pensado
muito. e às vezes dói o tanto que penso e brigo comigo e não consigo traduzir
em palavras. te decifrar era preciso. e logo eu, que um dia me achei tão bom
nisso, vejo-me outra vez entregue à loucura. estou preso em mim e fugindo do
único direito que permitiram em vida. mas ainda é tempo de lhe salvar e, assim, me salvarei também.
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